Brasileiros aprenderam com a ditadura o valor da liberdade, diz Dilma
— Por 21 anos, mais de duas décadas, nossas instituições, nossa liberdade e nossos sonhos foram calados. Hoje nós podemos olhar para esse período e aprender com ele, porque nós o ultrapassamos. O esforço de cada um de nós, o esforço de todas as lideranças do passado, daqueles que vivem e daqueles que morreram fizeram com que nós ultrapassássemos os 21 anos. Nós aprendemos o valor da liberdade, o valor do Legislativo, o valor do Judiciário independentes e ativos, aprendemos o valor da liberdade de imprensa, o valor de eleger pelo voto direto e secreto de todos os brasileiros governadores, prefeitos, o valor de eleger um ex-exilado, um líder sindical que foi preso várias vezes e uma mulher que também foi prisioneira — afirmou a presidente.
Dilma disse que o seu governo aprendeu "o valor de ir às ruas" e não abafou a onda de protestos que tomou o país no ano passado. Ela afirmou ainda que, nos regimes de exceção, a verdade e a transparência são interditadas.
— Nós temos o direito de esperar que sob a democracia se mantenha a transparência e se mantenha o acesso e a garantia da verdade e da memória, portanto, da história — argumentou.
A presidente lembrou que, quando instalou a Comissão Nacional da Verdade, disse que na visão ocidental verdade é o oposto do esquecimento e não comporta ódio, ressentimento ou perdão.
— O dia de hoje insiste que nós nos lembremos e contemos o que aconteceu. Devemos isso a todos os que morreram e desapareceram. Devemos aos torturados e aos perseguidos. Devemos às suas famílias, devemos a todos os brasileiros. Lembrar e contar faz parte de um processo muito humano e faz parte desse processo que iniciamos com a luta do povo brasileiro pelas liberdades democráticas, pela anistia, pela Constituinte, pelas eleições diretas, pelo crescimento com inclusão social, pela Comissão da Verdade, e por todos os processos de manifestação e ampliação da democracia que temos vivido nas últimas décadas, graças a Deus — disse.
O processo, segundo a presidente, foi construído passo a passo por cada um dos governos eleitos após a ditadura.
— Nós reconquistamos a democracia à nossa maneira. Por meio de lutas e sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais, muitos deles traduzidos na Constituição de 1988 — afirmou.
Como fez na instalação da Comissão da Verdade, em maio de 2012, a presidente manifestou seu respeito "aos que lutaram pela democracia enfrentando a truculência do Estado". Dilma disse que sempre exaltará os que lutaram contra a ditadura, mas reconhecerá os pactos políticos que levaram à democratização.
— A dor que nós sofremos, as cicatrizes visíveis e invisíveis que ficaram nesses anos podem ser suportadas e superadas porque hoje temos uma democracia sólida e podemos contar nossa historia — afirmou.
A presidente repetiu trecho de seu discurso na instalação da Comissão da Verdade:
— Se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca pode existir uma história sem voz. Quem dá voz à história são os homens e mulheres livres que não tem medo de escrevê-la. E acrescento: Quem dá voz à história somos cada um de nós que nosso cotidiano afirma, protege, respeita e amplia a democracia do nosso país.
O evento aconteceu no Palácio do Planalto, com a presença do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e do prefeito de Porto Alegre, José Fortunatti. A segunda ponte sobre o rio Guaíba tem 1,9 quilômetro mais 7,3 quilômetros de acessos e elevados. O governo federal vai investir R$ 649 milhões na obra, que deverá ficar pronta em três anos.
Globo - 31 de marzo de 2014